terça-feira, 13 de outubro de 2009

Império de todas e todos


Cada um de nós traz dentro de si um propósito, um ideal, que nos guia através dos caminhos tortuosos, das barreiras opressoras e das dificuldades desalentadoras. No entanto, o mundo é tão vasto e tão complexo que esse ideal, por vezes, acaba diminuindo como a chama tênue de uma vela, soprada pelo frio de uma noite escura. Parece que tudo é em vão, que os berros morrem nas paredes cinzentas do senado, do congresso. É como se até mesmo os passos que damos fossem contados e cobrados, como se todo e qualquer pensamento estivesse fora de nosso próprio alcance, num mar de incoerências e assombros silenciosos.
Somos amordaçados pelo medo da falta de bens. Somos vendados pelo temor de que nossos tetos desabem sobre nossas cabeças, de que nossas crianças não tenham pão para comer, de que nossos armários escancarem suas bocas e mostrem gargantas vazias, pedindo socorro para os céus e para os chãos. Neste mundo tão pavoroso, esquecemos daquele ideal antes tão ardente, antes tão presente, aquele que nos dava a direção e o sentido de tudo o que nos compõe.
Sim, parece frio e vazio, mas é tão real quanto o sangue que timbra as notícias nas páginas dos jornais todas as manhãs, trazendo o desconsolo e as lágrimas aos olhos da mãe trabalhadora. Não somente parece mas é vazio, tanto quanto o sentido da vida daqueles que sofrem discriminação e temem as ruas, temem as gentes, temem temer e serem descobertos, torturados, marginalizados.
Marginal, palavra que designa as margens de uma sociedade que nos exclui, que nos relega ao pouco que sobra daqueles inomináveis sem rosto que povoam a classe dominante, aqueles que definem o que iremos ler, o que iremos pensar, o que iremos ser. Aqueles que definem como e o quê será definido, quando e onde quiserem. Então por quê? Por quê, sabendo que todos são uns tão pessoas (ou tão bichos) quanto os outros, por quê o ciclo se renova, sucede-se num sem fim de exclusões?
Brecht já dizia que o pior analfabeto é o analfabeto político, e ele tinha toda a razão, pois política somos nós! Nós, juntos, podemos gritar mais alto e desmistificar as muralhas do silêncio, trazendo o que nos é de direito.
“Teatro? Arte? E o mundo real, onde fica?”
Os mesmos malabares que ganham o pão da criança no semáforo enfeitam os ares do circo! Os mesmos tecidos puídos que lhes cobrem os pés no frio deslizam do teto suaves, costurando sonhos, tecendo convicções. O palco onde a cena acontece são as ruas, são as praças, as casas, as pessoas! O teatro está em tudo, em todos. Não está somente no Municipal, tampouco somente na Broadway. Ele está aqui, ao nosso lado, gritando para que ouçamos sua voz já há tanto esquecida por aqueles que somente fazem enriquecer.
E dizem as más línguas que são todos uns vagabundos, que são todos uns desocupados, que são todos uns ninguéns. Esses que dizem tais coisas só querem, ah isso com certeza, é calar a voz de protesto, suprimirem o manifesto que ganha as ruas, escalando as mentiras e trazendo a sabedoria da senhora e do senhor para escrever suas linhas na história deste mundo. Teatro para gritar a verdade, circo para saltar nos trapézios das idéias, poesia para declamar o direito ao pão, cortejo para balançar os pilares gigantes que constituem a base do império do capital. Eram quatro vezes quatro cortejos, prenúncios de muitos ainda por vir.
Pois, a partir de agora, o único império que queremos ver é o Flávio Império, e com tudo que lhe é direito.




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