quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Império de todas e todos


Cada um de nós traz dentro de si um propósito, um ideal, que nos guia através dos caminhos tortuosos, das barreiras opressoras e das dificuldades desalentadoras. No entanto, o mundo é tão vasto e tão complexo que esse ideal, por vezes, acaba diminuindo como a chama tênue de uma vela, soprada pelo frio de uma noite escura. Parece que tudo é em vão, que os berros morrem nas paredes cinzentas do senado, do congresso. É como se até mesmo os passos que damos fossem contados e cobrados, como se todo e qualquer pensamento estivesse fora de nosso próprio alcance, num mar de incoerências e assombros silenciosos.
Somos amordaçados pelo medo da falta de bens. Somos vendados pelo temor de que nossos tetos desabem sobre nossas cabeças, de que nossas crianças não tenham pão para comer, de que nossos armários escancarem suas bocas e mostrem gargantas vazias, pedindo socorro para os céus e para os chãos. Neste mundo tão pavoroso, esquecemos daquele ideal antes tão ardente, antes tão presente, aquele que nos dava a direção e o sentido de tudo o que nos compõe.
Sim, parece frio e vazio, mas é tão real quanto o sangue que timbra as notícias nas páginas dos jornais todas as manhãs, trazendo o desconsolo e as lágrimas aos olhos da mãe trabalhadora. Não somente parece mas é vazio, tanto quanto o sentido da vida daqueles que sofrem discriminação e temem as ruas, temem as gentes, temem temer e serem descobertos, torturados, marginalizados.
Marginal, palavra que designa as margens de uma sociedade que nos exclui, que nos relega ao pouco que sobra daqueles inomináveis sem rosto que povoam a classe dominante, aqueles que definem o que iremos ler, o que iremos pensar, o que iremos ser. Aqueles que definem como e o quê será definido, quando e onde quiserem. Então por quê? Por quê, sabendo que todos são uns tão pessoas (ou tão bichos) quanto os outros, por quê o ciclo se renova, sucede-se num sem fim de exclusões?
Brecht já dizia que o pior analfabeto é o analfabeto político, e ele tinha toda a razão, pois política somos nós! Nós, juntos, podemos gritar mais alto e desmistificar as muralhas do silêncio, trazendo o que nos é de direito.
“Teatro? Arte? E o mundo real, onde fica?”
Os mesmos malabares que ganham o pão da criança no semáforo enfeitam os ares do circo! Os mesmos tecidos puídos que lhes cobrem os pés no frio deslizam do teto suaves, costurando sonhos, tecendo convicções. O palco onde a cena acontece são as ruas, são as praças, as casas, as pessoas! O teatro está em tudo, em todos. Não está somente no Municipal, tampouco somente na Broadway. Ele está aqui, ao nosso lado, gritando para que ouçamos sua voz já há tanto esquecida por aqueles que somente fazem enriquecer.
E dizem as más línguas que são todos uns vagabundos, que são todos uns desocupados, que são todos uns ninguéns. Esses que dizem tais coisas só querem, ah isso com certeza, é calar a voz de protesto, suprimirem o manifesto que ganha as ruas, escalando as mentiras e trazendo a sabedoria da senhora e do senhor para escrever suas linhas na história deste mundo. Teatro para gritar a verdade, circo para saltar nos trapézios das idéias, poesia para declamar o direito ao pão, cortejo para balançar os pilares gigantes que constituem a base do império do capital. Eram quatro vezes quatro cortejos, prenúncios de muitos ainda por vir.
Pois, a partir de agora, o único império que queremos ver é o Flávio Império, e com tudo que lhe é direito.




sábado, 10 de outubro de 2009

MOÇÃO DE APOIO DA CIA. ESTÁVEL DE TEATRO AO ATO S.O.S. FLÁVIO IMPÉRIO.




Nós da Cia. Estável de Teatro apoiamos o ato organizado por integrantes do projeto Vocacional de Dança e Teatro e do movimento de artistas locais para a continuação de um processo de reforma do Teatro Flávio Império que já dura, praticamente, longos 5 anos. Entendemos que a não reforma do teatro deve-se a uma questão meramente de vontade política e por isso a reivindicamos, assim como exigimos a reabertura urgente do espaço. Entendemos também que essas reivindicações são legítimas e de interesse de todo cidadão, ou coisa que o valha, pois desde 2005 as solicitações por esta reforma vêm sendo ignoradas pelo poder público.

É de responsabilidade de toda e qualquer administração garantir que o cidadão tenha acesso à cultura e que os trabalhadores da arte possam desenvolver seus trabalhos de forma livre e independente no espaço que pertence à comunidade.

Recentemente foi publicado pelo jornal Folha de São Paulo que a Prefeitura de São Paulo já gastou mais em propaganda neste ano do que o valor que cortou dos serviços de varrição de ruas e retirada de entulhos. Cortou 20% desses gastos, num total de R$ 58,4 milhões reduzidos na despesa com os serviços. Pretende gastar R$ 78,8 milhões com publicidade até o fim do ano, 134% mais do que o valor previsto no Orçamento para 2009 e 98,5% acima do gasto do ano passado, quando o prefeito foi reeleito. No próximo ano irá gastar três vezes mais em publicidade do que com educação.

Diante de tais números podemos entender a linha de raciocínio e prioridades da nossa atual administração. E daí fica a pergunta: Até quando a Periferia ficará Invisível aos olhos destes que são eleitos “representantes” de um povo?

Nossa participação nesta ação é um ato simbólico contra a falta de atenção a este importante bem público que está há anos sem reforma e nenhuma justificativa à comunidade, ferindo assim os princípios de uma possível democracia.

Aqui fica uma solicitação: Que venham frentes autônomas em prol da revolução cultural permanente e encenem a vida nos Cortejos Livres de toda a Leste.



Vamos avante. Por um teatro num lugar maldito. Mal Dito. Mau mau Dito.

Viva a luta em prol do Teatro Flávio Império!

Viva a luta contra a mercantilização da cultura!

Todo apoio ao S.O.S. Flávio Império!



11 de outubro de 2009



Cia. Estável de Teatro

http://www.territor ioestavel. blogspot. com/

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

3º Cortejo - Império e Circo


Unidos por um mesmo ideal.
Talvez a frase acima defina com maestria a gama infinda de sentimentos que permeou o 3º Cortejo do movimento SOS Flávio Império. Unidos, todos, do Movimento Livre Leste – que também luta pela cultura aqui, na Zona Leste – e todos nós, de grupos de teatro aqui da região, percorremos o Parque Ecológico com muita música de ciranda, jongo, danças, poesia e circo!
Das árvores ao chão, onde os tecidos costuravam a imaginação das crianças, jovens e adultos. Onde a lira girava, portando a moça dos olhos doces, sob a música alegre da sanfona e do batuque. “Vem, meu povo! Vem!” Era o grito ecoando do megafone; era o grito ecoando da garganta do próprio Flávio Império, de suas cortinas, de seus cenários, de seu palco, de sua boca, de suas escadas, de sua alma, de seu ser. E o povo atendia, e vinha. Ah, vinha!
Tudo que falta por aqui, para que tod@s tenham acesso à arte, ao teatro, dança, circo, poesia, literatura... tudo que falta para que tod@s tenham acesso à cultura aqui é a consciência de que estamos e queremos. Queremos o teatro, pois é um direito constitucional do ser humano! Não temos direito? Não somos humanos? Quem somos nós?
Para os que enxergam tudo do alto, não somos ninguém.
“Vem, meu povo, vem!” Grita com a gente, que nossa hora chegou.


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Segundo Cortejo - Trabalho, Labuta, Luta



E chegamos a mais um dia de cortejo,um domingo de muito sol e calor, o nosso segundo ato ocorreu no dia 27/09 e este dia estava com a cara jovem, 85% do grupo estava formado por jovens adolescentes, que pela primeira vez participaram de uma ação como essa. E eles não fizeram feio, mostraram para a comunidade que a cultura é necessária, e que eles estão dispostos a lutar por ela. Assinaturas, explicações e vontades nos levaram a chegar ao Parque Ecológico do Tietê, aonde fizemos uma grande roda com a presença do público frequentador do Parque e não demorou muito e tod@s em sintonia dançamos e cantamos cirandas, uma grande manisfestação. Após retornamos para a frente do Teatro Flávio Império e assistimos as cenas da Mostra Local do pessoal do Teatro Vocacional.

A nossa maior recompensa é saber que as nossas idéias, as nossas ações estão dando frutos, estamos junt@s com a comunidade em busca de um mesmo ideal.



domingo, 20 de setembro de 2009

Primeiro Cortejo







Hoje, como esperado aconteceu o primeiro cortejo pela reaburtura digna do teatro Flávio Império, segundo o Sindicado dos Trabalhadores Teatrólogos havia centenas de pessoas, mas pelos numeros da polícia militar havia apenas um bando de palhaços.
Os prepativos começaram cedo, as 11 horas da manhã o pessoal já começava a chegar, primeiro aconteceu uma rápida reunião para decidir os próximos passos do S.O.S. Flávio Império, depois começaram os ensaios para o cortejo, em um domingo de manhã não se anima tão rápido, mas as 13h o cortejo saiu.
Eram na verdade trinta manifestantes, trinta vozes que saíram cantando pelas ruas do bairro Engenheiro Goulart, passamos por diversas ruas, mas concerteza foi na feira do bairro que o movimento arrepiou, a feira e a manifestação eram uma só, a mesma vibração.
Voltamos para frente do teatro, todos sentaram-se na rua para ver duas apresentações: primeiro do grupo anonimante, que arrebentaram com sua peça, um carro que estava passando, parou, e não demorou muito para desligar o motor e se juntar a pláteia, depois o grupo Atormentados nos presentiou com outra peça, que também não ficou atrás.
Ao final da tarde, todos já estavam famintos, mas tínhamos duas certezas: uma que valeu a pena não ficar sentado na poltrona neste domingo e a outra, era que já somos ao menos cinquenta!

Dia 27 estaremos lá novamente!









Movimento S.O.S Flávio Império

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Promessas de Inauguração

O teatro Flávio Império foi fechado em 2005 pela administração municipal para reformas. A necessidade de reformas era evidente, no entanto, o fechamento não foi para imediata reforma, mas para desarticular o movimento de artistas e moradores locais pedindo por melhorias. O teatro era o principal espaço de encontro para organização do movimento. De lá pra cá, a prefeitura sempre lançou novas datas para inauguração do teatro, mas eram apenas palavras ao vento, somente discurso.
Em 2008 - ano eleitoral - orgãos oficiais do governo garantiram que as ENCENAÇÕES voltariam ainda naquele ano, outra vez, apenas promessas não cumpridas.
Abaixo documento que atesta posicionamento da prefeitura.



O teatro ainda não foi reformado, mas as vozes de protesto não cessaram, se fortaleceram, principalmente quando têm certeza que este governo não honra suas promessas, e sabendo que esta luta somente terá fim quando o teatro estiver adequadamente funcionando, cumprindo realmente sua função pública, um espaço público de produção e apresentação artística.

O movimento não tem líderes mas lutadores pelo direito da periferia a cultura.

Como as autoridades gostam de tirar fotos das inaugurações, fizemos uma pequena homenagem, pois ninguém tinha registrado a inauguração de 2008.




segunda-feira, 14 de setembro de 2009



CORTEJO
S.O.S. FLÁVIO IMPÉRIO


CONVIDAMOS TODOS A PARTICIPAREM DOS CORTEJOS EM PROL DA REABERTURA DO TEATRO FLÁVIO IMPÉRIO, LOCALIZADO NA RUA PROFESSOR ALVES PEDROSO, 600, CANGAIBA/ ENGENHEIRO GOULART - PRÓXIMO À ESTAÇÃO DE TREM ENGENHEIRO GOULART.

AS DATAS DO CORTEJO SÃO:

20 DE SETEMBRO
27 DE SETEMBRO

04 DE OUTUBRO
11 DE OUTUBRO


TODOS NO DOMINGO A PARTIR DAS 13H. A CONCENTRAÇÃO INICIAL SERÁ NA ENTRADA DO TEATRO E APÓS O CORTEJO, NESSE MESMO LOCAL, ACONTECERÁ PEQUENAS APRESENTAÇÕES TEATRAIS DOS GRUPOS PARTICIPANTES.

CONTRIBUA COM A REABERTURA DESSE ESPAÇO PÚBLICO ASSINANDO O ABAIXO ASSINADO QUE SERÁ PASSADO DURANTE O CORTEJO.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

ATÉ LÁ!

Para maiores informações entre em contato conosco pelo e-mail:
s.o.s.flavioimperio@gmail.com



A ação S.O.S. Flávio Império



"Nada é mais perigoso do que acreditar
que uma classe popular é incapaz de agir
de uma forma não alienada"
(Alain Touraine)


A ação S.O.S. Flávio Império é um ato organizado pela população da periferia de São paulo localizada nas imediações do bairro de Engenheiro Goulart (próximo ao bairro do Cangaíba) onde se localiza o Teatro Municipal Flávio Império e visa a reivindicação pela reabertura do mesmo. O Teatro, que fica na rua Professor Alves Pedroso, 600, encontra-se fechado para apresentações e sem data prevista para reabertura desde 2005.
De lá pra cá o espaço está num processo de reforma que já dura, praticamente, 5 longos anos. Endentemos que o não término do serviço deve-se a uma questão meramente de vontade política.
Essa ação, retomada durante encontro de grupos teatrais organizado pelo projeto Vocacional de dança e teatro, é na verdade, um movimento dos artistas locais que marca a continuação de um processo que já tinha sido desencadeado por esses artistas e encontrava-se, até o momento, adormecido. Afinal, desde 2005 as solicitações por reforma do Teatro vem sendo ignoradas pelo poder público.
Esse despertar significa o retorno do protagonismo da comunidade para solicitar a reabertura desse espaço público.


CORTEJOS

Iniciaremos nossa ação pela realização de cortejos pelas imediações do teatro na tentativa de alertar a populção sobre o abandono desse equipamento cultural. No final de cada cortejo haverá uma pequena apresentação na rua, em frente ao teatro, de grupos e artistas envolvidos nessa ação. No último dia leremos uma carta onde contaremos a história do Flávio e seu descaso.
Desde já iniciamos a coleta de um abaixo- assinado que também estará tramitando durante todo os cortejos.

Convidamos a todos a participar deste movimento em prol da arte e da cultura!

Para maiores informações entre em contato conosco pelo e-mail:
s.o.s.flavioimperio@gmail.com


SAIBA QUEM FOI FLÁVIO IMPÉRIO, IMPORTANTE ARTISTA PLASTICO E CENOGRÁFO BRASILEIRO.
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=745



O Texto a seguir é um trecho que conta um período do Teatro Flávio Império em que o mesmo fora coordenado artísticamente pelo Cia. Estável. A matéria na integra pode ser lida no site "O SARRAFO": http://www.jornalsarrafo.com.br/sarrafo/edicao09/mat02.htm


VAMOS METER O PÉ NA PORTA?

Vários grupos do teatro brasileiro recente conquistaram seu direito à existência através de uma prática que a história mostrou ser justa: a ocupação. O texto abaixo, do jornalista e pesquisador Valmir Santos, mostra o vínculo entre o teatro independente e a construção do espaço próprio.

INÁ CAMARGO COSTA




No quesito política pública para a cultura, a cidade de São Paulo assiste, entre 2000 e 2004, a um dos períodos mais ativos em relação aos teatros distritais ou equipamentos afins. Primeiro no Departamento de Teatro, depois na própria Secretaria Municipal da Cultura, o ator Celso Frateschi mobiliza sua equipe para um plano de ocupação que atinge melhores resultados quando vincula a pesquisa de criação com a comunidade do respectivo espaço. Como emblema, citemos os trabalhos da Companhia Estável no teatro Flávio Império, em Cangaíba, zona leste. Entre 2001 e 2004, desenvolveram-se ali atividades que deram origem aos espetáculos Flávio Império – Uma Celebração da Vida, com dramaturgia de Reinaldo Maia, e O Auto do Circo, de Luis Alberto de Abreu, ambos dirigidos por Renata Zhaneta.
Inaugurado em 1992, o teatro Flávio Império nunca atraiu tanto público como na residência da Companhia Estável, que batizou seu projeto de Amigos da Multidão.
Um dos integrantes, o ator Nei Gomes, afirma que a companhia desenvolve um processo de aproximação com a vizinhança vizinhança e, aos poucos, cativa até quem nunca havia ido ao teatro, a maioria do entorno. Mesmo moradores de outras regiões da cidade “descobriram” aquele teatro por conta da boa repercussão crítica de O Auto do Circo, sobre a tradição da família circense segundo a memória de um velho palhaço, Coscorão.
Do outro lado da cidade, em Santo Amaro, zona sul, a Fraternal Cia. de Artes e Malas-Arte também empreende uma ocupação das mais elogiadas no teatro Paulo Eiró. Notadamente em Borandá, desdobramento da pesquisa dos elementos da comédia popular brasileira. A inspiração
vem dos migrantes de várias regiões do país que vivem em São Paulo, alguns moradores vizinho ao próprio teatro.
O dramaturgo Luis Alberto de Abreu recria a saga familiar de três deles, colhendo informações desde o local de origem, relatos de viagem e a fixação na cidade. “Borandá é o resultado teatral
da pesquisa feita pela Fraternal sobre o migrante, com o objetivo de refletir sobre a cultura e os valores de uma faixa da população que hoje constitui maioria e que tem alterado consideravelmente o perfil das metrópoles, principalmente em sua periferia e regiões circunvizinhas”, escreve Abreu.

VALMIR SANTOS
jornalista e pesquisador teatra
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